Agrishow: Uma história de 30 anos que mira R$ 15 bi em negócios

Atual formato existe desde 1994, mas projeto de uma feira de tecnologia nasceu 3 anos antes, idealizado pelo agricultor paranaense Brasílio de Araújo
Alexandre Inacio

A 30ª edição da Agrishow começou hoje em Ribeirão Preto. A feira de tecnologia agrícola do interior paulista se enquadra entre as maiores do mundo, e deve gerar neste ano R$ 15 bilhões em propostas de negócios. Se confirmado, o valor representará um crescimento de 10% sobre 2024.

Virou tradição as maiores empresas de máquinas e implementos agrícolas do mundo reservarem espaços grandiosos para apresentarem o que têm de mais moderno ao mercado. A tradição também se mantém nos hotéis lotados e no trânsito caótico no entorno do quilômetro 31 da rodovia prefeito Antônio Duarte Nogueira.

Os donos da festa

O sucesso da Agrishow é inegável. Nem mesmo a pandemia foi capaz de arrefecer o ímpeto de crescimento dos negócios e investimentos no setor. Mas, como diz um dos mais antigos frequentadores da feira, “todo mundo quer ser pai do filho bonito que deu certo na vida”.

Hoje, a Agrishow é controlada por cinco entidades do agronegócio nacional. A Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), a Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Fapesp) e a Sociedade Rural Brasileira (SRB) formam o bloco de controle da feira.

Nomes por trás da Agrishow

Mas essa não foi a formação original. A Agrishow nasceu com esse nome e esse formato em 1994. Porém, o projeto original foi idealizado por um agricultor paranaense chamado Brasílio de Araújo Neto, em 1991, com o nome de Feira Dinâmica.

A ideia era bastante simples. Brasílio queria criar no Brasil uma feira nos mesmos moldes da americana Farm Progress Show, existente desde 1953. Inicialmente, o agricultor apresentou seu plano para a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) – afinal, era um dos grandes entusiastas do sistema cooperativista.

Contudo, a ideia não avançou internamente na entidade cooperativista. Brasílio recebeu, porém, a indicação para que levasse a ideia um jovem pecuarista, recém empossado presidente da SRB, conhecido como Pedro de Camargo Neto.

Naquele momento, Pedro e Brasílio acertaram uma parceria sem envolvimento financeiro. A Rural daria apoio institucional ao evento idealizado pelo agricultor paranaense que, por conta própria, realizou a primeira edição da Feira Dinâmica em sua própria fazenda, no Paraná, em 1992.

O resultado foi um fracasso. O público não apareceu, os patrocínios obtidos à época não foram suficientes para cobrir os custos e a primeira edição da Feira Dinâmica terminou no vermelho.

Em 1993 houve mais uma tentativa. Brasílio foi buscar o apoio da centenária Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). Desde 1935 a entidade realizava em Uberaba a ExpoZebu, uma feira que misturava shows e entretenimento com exposição e leilão de animais de raças zebuínas.

A ideia era que a Feira Dinâmica acontecesse dias antes do início da ExpoZebu. Sem os shows e as festas, o evento de Brasílio teve o segundo ano consecutivo de prejuízo financeiro. Porém, aquela edição seria determinante para o nascimento da Agrishow nos moldes conhecidos hoje em dia.

A Feira Dinâmica de 1993 recebeu a visita de duas pessoas determinantes para a virada do evento. Roberto Rodrigues, então presidente da SRB, e Francisco Matturro, então diretor da Tatu Marchesan e atual presidente da Agrishow, estiveram em Uberaba para conhecer a feira de Brasílio.

Eles concluíram que uma feira com aquele perfil poderia se transformar em uma bandeira da Abag. A entidade, fundada em abril de 1993, por Ney Bittencourt de Araújo, dentro de uma pequena sala na SRB, defenderia a criação de um evento onde os produtores rurais teriam acesso às diferentes tecnologias apresentadas pelas empresas, colocando em um mesmo ambiente diferentes elos da cadeia produtiva.

Rivalidades políticas

Em agosto de 1993, Roberto Rodrigues foi nomeado secretário de Agricultura do Estado de São Paulo pelo então governador do PMDB Luiz Antônio Fleury Filho. A partir daí, passou a trabalhar para encontrar um local capaz de receber uma feira nos moldes idealizados meses antes.

A fazenda experimental do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), em Ribeirão Preto – onde a Agrishow é realizada até hoje – foi escolhida. O local estava sob a responsabilidade da secretaria comandada por Roberto Rodrigues, o que, em tese, facilitaria o processo. Faltava envolver a prefeitura.

Foi aí que surgiu um pequeno problema. A prefeitura de Ribeirão Preto estava sob a gestão do Partido dos Trabalhadores (PT), inimigo político do então governador Fleury, e tinha um jovem médico à sua frente: Antônio Palocci.

Pelas vias oficiais, um encontro entre um representante do governo do Estado e o prefeito de um partido rival, para tratar de evento que traria benefícios econômicos e políticos para apenas um dos lados seria impossível.

Por esse motivo, Roberto Rodrigues e Antônio Palocci tiveram um encontro sigiloso, intermediado por um empresário da região, sem a anuência ou aprovação do governador. Todos os detalhes foram acertados para que a primeira edição da Agrishow ocorresse em Ribeirão Preto, em 1994.

Ainda que sigiloso, aquele encontro foi o início de uma relação produtiva entre Roberto Rodrigues e Antônio Palocci. Anos mais tarde, Palocci indicou e foi o grande “fiador” de Roberto Rodrigues para o Ministério da Agricultura, durante a primeira gestão de Luiz Inácio Lula da Silva na presidência do Brasil.

Nascimento, queda e retomada

Naquele momento, a Agrishow tinha como donos a Abag, SRB e a Sociedade Rural do Paraná, presidida por Brasílio. Mas ainda não era suficiente. Foi então que os controladores resolveram convidar outros elos da cadeia produtiva.

Foram convidados a se juntar à Agrishow a Associação dos Engenheiros Agrônomos de São Paulo (Aeasp), a Anda e a Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef). Juntas, as seis entidades criaram um conselho gestor liderado pela Abag e a primeira medida foi a mudança do nome do evento, de Feira Dinâmica para Agrishow.

Em 4 de maio de 1994, a fazenda experimental do IAC abriu as portas para a Agrishow. Na primeira edição, cerca de 10 mil pessoas visitaram os estandes de mais de 60 empresas que apresentaram seus lançamentos. Finalmente, após dois anos de fracassos consecutivos, a feira foi considerada um sucesso, gerando lucros a seus organizadores.

Motivados com os resultados, os organizadores iniciaram os preparativos para a segunda edição. Surpreendentemente, em 1995, a Agrishow teve um dos seus piores prejuízos da história. As perdas foram tão grandes que a feira quase deixou de existir naquele ano, ameaçando, inclusive, a realização da terceira edição.

O sepultamento da Agrishow só não ocorreu devido à chegada de um novo sócio. Sérgio Magalhães, então presidente da Abimaq, se mostrou interessado em assumir o ônus da organização e as dívidas geradas em 1995. A condição, porém, era realizar algumas mudanças estruturais.

Para a edição de 1996, Andef e Aeasp e a Rural do Paraná deixaram o conselho da feira e a sociedade na Agrishow. A Abimaq passou a deter 80% do capital do evento, ficando os demais 20% divididos entre Abag, Anda e SRB.

Aquele ano também foi marcado pela chegada do Ministério da Agricultura e do Banco do Brasil como patrocinadores master. Estima-se que cada um tenha aportado R$ 500 mil, fazendo com que a Agrishow de 1996 reconquistasse o sucesso e prestígio de 1994.

A composição da Agrishow com as quatro entidades durou por 19 anos. Em 2014, a Abimaq decidiu vender uma fatia de 10% de sua participação para a Faesp. Estima-se que a federação paulista tenha desembolsado R$ 4 milhões pelo quinhão da Agrishow.

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